quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Lua de Papel

Ao pôr-do-sol, no meio do deserto de uma vida, um deserto onde a areia é cinza e o céu é esbranquiçado, um único ser caminha. Um guerreiro maltrapilho, cansado, anda de forma vagarosa até o horizonte, até o limite do mundo.

Ele pára, observa o lugar que deixou pra trás: um fortim. Mais que um fortim: o seu eu. Ele possuia cores, mas nele havia um conflito.

Uma batalha sangrenta, uma luta eterna. Ele se sente mal por ter deixado todos os que contavam com ele pra trás. Sente que não queria sua partida, mas que era necessária. Aventurava-se pelo deserto do preto e do branco, para fugir de sua responsabilidade.

"Tristeza". Não era areia, era tristeza. Invadia suas grevas e seu escarpe, tornava a manopla e o espaldar desconfortável e o elmo, bem, o elmo não havia. Mesmo que houvesse algo que protegesse a cabeça, não seria páreo para a areia cinza.

E assim, ele anda como se não houvesse amanhã, principalmente porque não havia. Atingiu o seu limite, deixou quem conhecia no fortim, e enfim chega ao limite. Ele olha pra baixo, e, no horizonte, no fim do mundo, só há trevas. Cair para a imensidão do nada. O céu continua. Abre os braços e deixa-se cair.

Caindo na escuridão, aos poucos não vê mais nada. E o escuro entra por debaixo de sua pele, cava-se em suas veias, percorre tudo até chegar seu coração. Um fato peculiar sobre as coisas é que nas horas mais sombrias, quando vê-se o absoluto lado negro, qualquer ponto de luz é capaz de furar o véu escuro.

E para aqueles que puderam erguer suas cabeças naquela noite, quando olharam pra escuridão acima e viram o manto estrelado e a lua frágil, entenderam perfeitamente o que eram.

Esperança, a mais fraca em intensidade porém mais persistente em durabilidade, rompe o lacre e faz mais um dia nascer. O guerreiro, agora com um sorriso no rosto, vê ao longe a batalha que deixara e decide mais uma vez travá-la.

E essa é a história dos nossos sóis mentirosos e das nossas luas de papel.