segunda-feira, 31 de maio de 2010

Círculo Fechado

"É isso aí. Círculo fechado. É a hora. Fim de jogo. Mas interessa mesmo, tudo isso? Eu sou o bandido, o maldito mal. Mas todos aqui se esqueceram de uma coisa:

Eu sou o MALDITO MAL NECESSÁRIO!

Todos vocês que apontam agora suas armas para mim se esquecem que não teriam pra quem apontar se não fosse por pessoas como eu. E eu não sou assim tão ruim.

Como é? Eu sou o pior tipo de pessoa que existe? Tipo de pessoa que 'só quer ver o mundo pegar fogo'? Bom, pode até ser que eu seja esse tipo de pessoa. Mas é o meu tipo de pessoa que também apaga esse tipo de fogo. E eu não sou o pior. VOCÊS são os piores! Enquanto o meu tipo age, o tipo de vocês permanece estagnado, assistindo o mundo pegar fogo sem sequer mover um músculo, sem sequer tentar fazer algo. Vivendo a vida, já que o assunto não envolve vocês.

Mas estão errados. O assunto envove vocês, sim. Todos vocês.

Mas cá aqui estamos! Ao meu possível fim, cavalheiros e, quem sabe, damas!

Prestes a se tornarem heróis. Mas o mundo precisa dos heróis? Tanto quanto de mim. Sem eu não haveria heróis. O que estou tentando dizer é que não haverá paz se não haver guerra. Ambas precisam co-existir.

Se eu não existisse, outra pessoa estaria aqui. Alguém precisa ser o mal. Se a sociedade não me encontrasse, encontraria outro. Vocês vão ver! Dia ou outro, vai ser 'cão come cão'.

Então, que venha! Melhor aqui e por uma bala do que na cama e por alguma doença!

Vamos, atira quem quiser ser o herói!

Vamo, atira!

ATIRA!"

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Surreal

E depois de vários devaneios durante esta noite, muitos provindos do blog do meu xará (pra quem quiser conferir, é: http://sequelasdopensamento.blogspot.com/ ), vim a me perguntar: o que é real?

Antes do leitor perguntar se estou drogado, devo dizer que estou meio extasiado, hoje, por motivos que eu nem sei. Sem falar que estou sobre o forte encanto do sono (eu ia dizer: "sobre o forte encanto de Morpheus", mas isso seria simplesmente estranho).

Enfim, voltando ao tema: real. No sentido de existir, não no sentido de grana.

Segundo o dicionário:

Re-al: adj. Que tem existência verdadeira, e não imaginária: a vida real. Relativo ou pertecente ao rei ou à realeza: dignidade real, palácio real. S.m. Antiga moeda portuguesa e brasileira. Aquilo que existe efetivamente, que não é fictício; realidade. Unidade do sistema monetário brasileiro, que entrou em vigor em julho de 1994. (Símb.: R$).

Sem comentários com relação ao sistema monetário. Enfim, pela prória definição de "real" é possível dizer que Deus não é real, mas eu não estou me sentindo radical hoje. Dessa forma, apresento a vocês um contra-argumento.

SIM! Você me verá dizendo que Deus é real!

Indo além do significado do dicionário e indo pro significado filosófico, aquele que toca a natureza enigmática(e enlouquecedora!) da palavra "real". Real seria tudo aquilo em que um indivíduo acredita. Dessa mesma forma, pode-se considerar real o modo como a pessoa vê outras e o mundo ao seu redor. Sendo assim, pode-se considerar Deus real.

Um exemplo: Deus é real para um crente. O amante é fiel para quem ama. Essas duas coisas podem muito bem não ser reais e ainda assim são consideradas verídicas por quem tem fé.

Resumindo: tudo o que, para você, existe é real até que se prove o contrário.

Resumindo o resumo: acredite no que quiser que não deixará de ser verdade.

Resumindo o resumo do resumo: acredite no que quiser!


E quanto a Deus: que fique claro que eu ainda sou ateu. Deus é um assunto que não pretendo debater no "real", talvez na "existência".

sábado, 8 de maio de 2010

A Sina dos Quatro

Não é sobre o assassinato. O roubo. O dinheiro.

A fama, glória, vitória, revanche, vingança, vendetta, pseudo-justiça.

Não é sobre sua raça, etnia, seu sexo, a conquista. Seu temperamento.

A morte vingada, a vida tirada.

Não é sobre o sangue, as armas, as almas, a guerra. Seu bom-humor.

Mentes enlouquecidas, famílias destruídas.

Não é sobre a falta, a vontade, a busca, a esperança, a fome. Sua fé.

O grito nunca ouvido, o tiro retido.

Não é sobre a navalha, a faca, o prazer, a morte. Sua insanidade.

O caos e a ordem.

É sobre... mandar a mensagem certa.

É isso o que, talvez, ninguém entenda. Algumas pessoas simplesmente querem melhorar o mundo. À sua maneira.

Sem vilões, sem heróis. Apenas pontos-de-vistas diferentes.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

A Casa de Cartas

Nós não vivemos muito tempo. De fato, tenho 17, quase 18 anos e não vi muita coisa passar.

Durante todos os segundos, minutos, horas e dias da nossa vida nós montamos um castelo.

Um castelo com muralhas altas e fortes. Capazes de repelir todas as investidas e ataques inimigos. O castelo é uma imensa fortaleza, um porto-seguro para nós mesmos. Um lugar para onde podemos viajar quando quisermos. E lá é bom. Lá é seguro.

Lá é o melhor lugar do mundo! Todo mundo te compreende, já que não existe ninguém lá além de ti. É um lugar feliz e alegre, já que foi tu mesmo que construiu.

Mas ele foi feito com teus pensamentos, tuas ideias e expectativas.

No momento que alguém te mostra a realidade, ele desaba.

Não existe pote-de-ouro no fim do arco-íris. E só quem é tolo o suficiente para perseguí-lo descobre isso.

E no fim, as estruturas, os pilares, todos abalados, cedem. Cedem ao impacto que aquilo tudo tem em ti e, vagarosamente, o castelo desaba.

E você percebe que nunca foi um castelo. Era uma casa de cartas.

E quando uma foi retirada, a estrutura toda foi comprometida.

sábado, 1 de maio de 2010

Malice in Wonderland

"Aos trambiques, o mundo se vai..." cochichou baixo para si mesmo.

Wonderland era um lugar que muitos consideravam o melhor lugar da Terra.

Era um enorme - e clássico! - parque de diversões. Havia roda-gigante, carrossel, montanhas-russas, algodão doce e tudo o que qualquer bom parque deveria ter. Pensando assim, não era tão diferente de outros parques. Mas Wonderland tinha algo especial. Alguma coisa naquele lugar parecia deixar qualquer um que chegasse ali alegre. Era contagiante. A aura de felicidade do lugar afetava a todos ao ponto de que ninguém ali dentro deixava de sorrir e de se divertir.

Sorrindo também estava a misteriosa e excêntrica - e de uma índole questionável - figura que estava parada em frente ao portão principal do parque. Toda a alegria do parque parecia não o afetar. Por de baixo das abas de seu largo chapéu cartola, deu uma boa observada nos arredores. Ajeitou seu encardido paletó e, com passos largos e andar desengonçado, fazia seu caminho até a praça central do parque. Era lá que muitos vendedores se reuniam, onde as pessoas mais andavam e se encontravam. Lá, também, se encontrava uma caixa.

Ah, a caixa! Ela não era uma caixa especial, era pequena e de madeira. Sobre ela estava estendida uma toalinha azul, e sempre havia alguém fazendo apostas atrás dela. Apostas do tipo "adivinhe que carta é após eu embaralhar as três!" e algumas variantes dessa mesma brincadeira, algumas com bolinhas e copos.

Quando a figura chegou ao centro, outra pessoa ocupava a caixa, com um pequeno número de pessoas em volta. Se aproximou e esperou uma chance de conversar com o Ocupante.

- Com licença? Poderia, se não for muito incômodo, ceder-me seu lugar? Há muito espero por este dia!

O Ocupante gargalhou alto, seguido pelas pessoas ao redor. A figurava não se deixava intimidar.

- Façamos assim: - agarrou seu baralho de cartas - eu vou tirar uma carta daqui desse bolo. Se você acertar, você fica com meu lugar!

- Que assim seja, então.

O Ocupante embaralhou cautelosamente seu baralho e tirou, do meio das 52, uma. "5 de paus. Ha! Impossível o esperto acertar!". O desafiante pensou durante um certo tempo. Pediu para tocar a carta, virada. Sem alguma malícia, o Ocupante deixou. Virou a carta para ele, novamente sem mostrar a ninguém e viu que ainda era um 5 de paus. E, por fim, aguardou ansioso a resposta do desafiante.

- Ou muito me engano, ou é uma rainha de copas!

Com um sorriso largo, o enganador virou a carta sem a ver.

- Perdeste então, malandro?

- Não mesmo, ao que me parece!

A carta virada sobre a mesa não era nada além da já prevista pelo malandro. Nada mais, nada menos, nada além. Prontamente o povo ali reunido aplaudiu. O Ocupante, derrotado, recolheu suas coisas e desapareceu em meio a massa de pessoas no parque. Calmamente, o malandro se sentou no banco e estendeu as cartas. Hoje faria algum dinheiro. Um "dinheiro" considerável. Mas antes, o aquecimento!

Pouco-a-pouco as pessoas vinham. Algumas ganhavam, outras perdiam. Em sua maioria, perdiam.

Até que que surge uma garota. Não era pouco velha, nem muito nova. Seu olhar denunciava ser esperta como uma raposa. Apostou pouco dinheiro e perdeu. Naturalmente, não se conteve.

- Trapaceiro!

O acusado, que já estava embaralhando as cartas, parou e, com o canto dos olhos, encarou a garota. Nada disse e, calmamente, se levantou e recolheu suas coisas. Andava através dos caminhos agitados do parque, e percebeu que a garota ainda o seguia. Se virou de modo brusco e inesperado, assustando a garota.

- Mas será possível?

- Só paro de te seguir quando tiver meu dinheiro de volta!

- Garota, vivo de golpes. Quer ouvir uma historinha? Óbvio que quer. Nasci muito pobre. Meu pai tinha uma venda de chapéus. Era o suficiente pra sustentar nossa pequena família. Eu estava destinado a, como ele, ser um chapeleiro também. Mas o destino tem, também, seus golpes.

"Um dia, chega à venda um homem. Trazia uma proposta para meu pai. Tratava-se de um investimento. Meu pai emprestaria, ao homem, dinheiro e este multiplicaria o dinheiro e daria ao investidor sua parcela. Não preciso dizer que era, evidentemente, um golpe. Um golpe em que meu pai caiu direitinho. Nunca mais vi aquele homem. Perdemos tudo. E eu cresci para me tornar exatamente como o homem que arruinou a vida da minha família, ou até melhor, ou pior dependendo de seu ponto de vista."

- Mas nesse caso, Chapeleiro Malandro, se tornou igual ao homem que arruinou sua vida! E eu ainda quero meu dinheiro, trapaceiro!

- Minha cara...

-... Alícia!

- Minha cara Alícia! Por que achas que, na Roma Antiga, nenhum cidadão apontava a loucura dos imperadores-ditadores?

- Não sei dizer.

- Porque é direito do cidadão dizer que o imperador é louco, mas o imperador contiuaria sendo um imperador e o cidadão continuaria sendo um cidadão. Dessa mesma forma, você ainda é uma idiota e eu ainda sou um trapaceiro que tem o seu dinheiro. Não há como você, sozinha, mudar isso.

Alícia não se deu por conformada. Continuou a seguir o Chapeleiro Malandro através de Wonderland, dessa vez ao seu lado e com o consentimento dele.

Não andaram muito e chegaram a um pequeno e modesto prédio.

- Espere aqui, - disse o Chapeleiro - e te garanto seu dinheiro de volta.

Sentada no degrau da construção, Alícia esperou. Já achava que o Chapeleiro havia fugido por alguma outra saída do prédio quando a porta da frente se escancara. De lá saia a figura excêntrica do Malandro, com uma pose vitoriosa.

- Alícia, minha querida. Acabo de fechar um negócio extraordinário! E aqui está seu dinheiro.

- O que fizeste?

- Acabo de convencer a Rainha a fazer um pequeno investimento!

- Se lhe entendi muito bem, pode ter causado a ruína desse parque tão maravilhoso!

- Pois bem Alícia, para haver um vencedor, alguém tem que ser o perdedor.

E, deixando Alícia para trás, o Chapeleiro andou até a saída, o mesmo portão pelo qual havia entrado. Se virou e deu uma boa olhada no País das Maravilhas que havia destruído. De fato, um pouco de remorso bateu em seu coração. Mas não pararia agora. Já havia lidado com isso uma vez. Ajeitou o chapéu e voltou a andar.