quinta-feira, 25 de março de 2010

Atlas Aliviado

Atlas era um cara bem legal. Gostava de andar com seus amigos, de ler, de praticar esportes. Mas esse não era o maior traço de Atlas.

O titã era conhecido por seu tamanho imenso, e com sua força poderia aguentar qualquer peso, mesmo em suas costas. E pouco-a-pouco foram pedindo coisas a ele. Eram coisas simples no começo.

"Atlas, pode me levar até lá?"

"Atlas, pode trazer aquilo até mim?"

"Atlas, me dá uma mãozinha?"

E a medida que o tempo passava, os pedidos a Atlas cresciam. Em quantidade e tamanho. Se julgando o cara legal que era, o gigante sucumbia. Atendia aos desejos das pessoas e, principalmente, de seus amigos.

Até que um dia, o titã se viu com o mundo inteiro em seus ombros!

Atlas não se mexia. Até mesmo um gesto de leve com os ombros poderia fazer a Terra despencar. Ficou quieto ali, durante dias e dias.

Um certo dia de sol, uma garotinha de cabelos radiantes se aproximou do titã. Atlas podia ver nos olhos daquele ser que, perto dele, era tão pequenino e singelo um traço de esperteza. De inteligência. Sentiu uma boa impressão vinda da criança. Fazia tempo que ele não conversava e decidiu descontrair-se. Para passar o tempo. Abriu sua enorme boca e começou a falar:

- Ora, ora! Já é algum tempo que não me encontro alguma companhia! Diga-me, pequenina de cabelos dourados, qual teu nome?

A garotinha se conteve por um tempo. Dias. Meses. Todo novo raiar ela vinha visitá-lo, mas nunca falava nada apesar de Atlas sempre puxar conversa com a mesma frase de boas-vindas.

Num fim de tarde, quando o titã se sentia um tanto infeliz e desânimado, a garotinha apareceu como de costume. Olhou pro rosto do gigante e ele olhou de volta. Dessa vez, para a surpresa de Atlas, a garotinha começou a conversa.

- Ora, ora! Mas o que vejo? O persistente gigante está abatido, ou muito me engano?

- Não te enganas, pequenina! O destino tem essa perturbante mania de me incomodar! Logo eu, um ser tão legal e bondoso com os outros me encontro sozinho e perdido.

- Mas bom gigante, não achas que também mereça ser legal e bondoso consigo mesmo?

- É verdade pequenina, mas é assim que os outros querem e eu não os quero bravos comigo. A propósito, boa mocinha, como te chamas?

- Chamam-me Consciência. E se não se importa, agora preciso ir. Está tarde e não posso perder o jantar que minhã mãe passou tanto trabalho para fazer para mim. Até amanhã.

Atlas passou aquela noite inteira pensando no que a pequena sábia havia dito. Procurava achar erros em sua fala, mas não os encontrava. Talvez fossem difíceis de encontrar, talvez não existissem.

No outro dia, Consciência apareceu um pouco mais cedo e pôs-se a ouvir a história de Atlas. Mal terminara de contar e a garotinha começou:

- Mas Atlas, por que carregas a culpa deles?

- Porque são meus amigos, oras!

- Entendo, mas por que carregas a responsabilidade deles?

- Mais uma vez, porque são meus amigos. Entende?

- Não. Não entendo, Atlas.

- Pequenina, vez ou outro temos de fazer sacrifícios em nome dos outros. Mesmo contra a nossa vontade.

A menina que antes parecia confusa agora parecia indignada. Olhava a face gentil do gigante e não via o ser enorme, gentil, generoso que poderia ter sido.

- Mas Atlas, - começou o que seria curto - por que ser amigo de pessoas que pedem para que gaste seu tão precioso tempo com coisas banais e quase pessoais, que deveriam ser delas, como suas culpas e suas responsabilidades? Pessoas aprendem com seus erros. Logo, parte da magia de "aprender" vem de "errar", minha mãe me diz. Tanto culpa quanto responsabilidade nos são necessárias. Por que, então, Atlas, por que te sacrificas tanto?

O titã ouviu atentamente o que Consciência dizia. Escutou cada palavra, com extrema atenção.

Naquele dia, ela voltou pra casa sem se despedir. Não queria atrapalhar o gigante. Já Atlas, passou a noite inteira pensando. Pensava e pensava. No outro dia, quando a garotinha apareceu, Atlas levou seus olhos aos dela. Pensou, acima de tudo, nas palavras que diria naquela hora. Depois de uns segundos, disse:

-Verdade.

E sacudiu os ombros.

2 comentários:

  1. Opa! Muito bom!

    Gosto muito de histórias misturadas com mitologia. E no caso desse texto, serve muito de lição de moral também... ou de aviso, para quem estiver por perto, de que cuide com a cabeça por que tu cansou de segurar o mundo deles.

    Quando tiveres algo para postar no meu blog me manda no e-mail Marcus423@gmail.com
    (tinha esquecido do nosso combinado de terça, foi mal).

    Well, era isso.

    Abraço!

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  2. mais tarde o Atlas foi trocado pelo Google Earth
    xDDDD

    muito bom o teu texto, cara. Fiquei preso nele até o final e depois ainda rendeu uma piadinha infame haha

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