sábado, 26 de fevereiro de 2011

Eu odeio... os macacos

Imagine um grão de areia dentro de um espaço milhares de vezes (quiçá mais) maior que o oceano. Esse grão é aonde você se encontra. Esse grão é onde está tudo o que você pensa, ama e valoriza. Isso é o quão insignificante nós somos, como um tudo. Agora imagine que esse grão é habitado por inúmeros micro-seres. 7 bilhões deles, pra ser sincero. E você é apenas mais um deles.

Eu espero que já tenha percebido a metáfora até aqui. É tudo o que somos, nada mais.

"No começo, não havia nada". Até surgir o primeiro ser vivo. O tempo passou e esse ser foi aprendendo a ser mais complexo, percebendo que assim podia concluir seu propósito natural de uma maneira mais fácil, sem gastar determinada quantidade de energia. Esse propósito natural não é nada além de uma grande reação química. Uma molécula que ficou "esperta". E logo, o peixe apareceu. E o sapo, e o jacaré e o passarinho também vieram. Até que surgiu o macaco.

O macaco excedeu todas as expectativas. Ele descobriu o fogo e a roda. Logo ele foi construindo algo melhor pra si. Ele descobriu que aquelas sementinhas que ficavam das frutas, quando jogadas no chão, elas cresciam. E o macaco viu que não havia mais motivo pra andar por aí, ele podia ficar no lugar que ele achasse mais confortável.

O macaco viu que se ele tivesse que ficar sempre no mesmo lugar por motivos de comodidade, ele teria que se defender e se proteger. O macaco que sabia fazer isso melhor era visto como líder. Pra se defender, ele pegou aquilo que o machucava e procurou um jeito de usar contra o inimigo. Aprendeu que o inimigo muitas vezes era comestível. Contra as tempestades, percebeu que se ficasse debaixo de pedras, ele não se molhava; e que se ficasse entre elas, o vento não passava; e tão logo surgiu a primeira moradia rudimentar.

Explicações começaram a ser pedidas, e logo os macacos, sem saber explicar disseram que uma força maior fazia chover. Que uma força maior fazia o dia e a noite. Que eram deuses e que deviam ser respeitados, caso contrário a chuva seria muito forte, e os dias muito quentes e as noites muito escuras.

Até que um dia, os macacos foram abalados por uma descoberta: havia outros macacos. Outros macacos que não acreditavam nos mesmos deuses que os deles, e isso poderia causar maiores tempestades e ninguém queria isso. O macaco olhou para seu instrumento de proteção e pensou: "eu posso usar isso para matar os outros macacos".

E então começou a expansão e a dominação dos macacos. E perceberam que havia muitos, mas muitos outros. Logo ele descobriu o bronze. Viu o que podia ser feito com ele e pensou "eu posso usar isso para matar os outros macacos".

Eles eram organizados agora. Eles eram pensantes. Mas ainda assim matavam os outros macacos.

Com o tempo, os macacos perceberam que não havia motivos em culpar vários deuses para o que acontecia se ele podia culpar apenas um absoluto. Era mais fácil servir a apenas um.

O macaco descobriu outra espécie de macaco, mas essa ele não dizimou. Não dizimou porque essa espécie havia criado a pólvora. E quando viu para o que a pólvora podia fazer, ele pensou: "eu posso usar isso para matar os outros macacos".

E os macacos avançaram através dos mares, e o que os motivava não era mais um deus: eram eles mesmos. Mas eles não sabiam disso, e há quem especule que até hoje eles não saibam.

Descobriu a física, a alavanca, a roldana, e inventou modos de por aquilo em prática. E então surgiu a máquina. E viram que podiam fazer máquinas para tudo.

Eventualmente, os macacos perceberam que os outros macacos tinham mais pedras brilhantes e mais máquinas também. Esperaram qualquer pretexto pra se matar, já que agora eram "civilizados" e não podiam sair por aí matando por causa de leis que eles mesmos criaram. Viram que se matar um pouco não era o suficiente, e logo começaram uma segunda guerra. Durante ela, descobriram como dividir o átomo e pensaram: "eu posso usar isso para matar os outros macacos".

Após isso, os macacos se viram imersos num progresso contínuo.

Hoje, os macacos vivem suas vidas comuns.

Os macacos têm necessidades básicas: eles precisam comer, eles precisam dormir e eles precisam amar. Eles precisam praticar suas emoções. Mas o macaco só pensa em si, e na sua busca por comida, sono e amor ele acaba ferindo outros macacos, sem saber. Os macacos fazem doer a quem pode doer. Fingem amar a quem pode amar. Eles sabem que sentimentos são perturbadores, que não geram coisas boas, mas eles têm mesmo assim. Em que ponto da história foram inventados os sentimentos? Os macacos não sabem.

O segundo sentimento mais falado que o amor é o medo. Medo de tudo, eles dizem. Mas o que eles têm medo mesmo é de morrer. Eles têm medo do desconhecido. Eles têm medo que a reação química elementar faça-se encerrar a parte deles, e procuram saídas pra isso. Mal sabem eles, coitados, que são só matéria orgânica. Talvez eles estejam num lugar melhor agora, mas aqui nesse universo, eles são só matéria orgânica em decomposição.

E é o amor e o medo que fazem os macacos continuarem, dia após dia. Não me pergunte o que acontece com aqueles que não têm ambos, porque eu ainda não sei responder. Mas nós estamos trabalhando na resposta, juro.

É o que faz eles continuarem, mesmo sabendo que são apenas um grão de areia no oceano.

Essa é a história do macaco. Como termina? A gente ainda não sabe. Alguns dizem que um macaco vai vir pra levar eles pra um lugar melhor, outros dizem que nunca vai terminar. Mas e se terminar? O livro dos macacos se fecha, e quem sabe outro ser vivo possa ser mais inteligente que o macaco e perceber que se matar não é uma boa ideia... e isso será outra história. E essa história termina? Talvez termine, mas outra vai começar, porque as histórias nunca terminam.

A não ser esse texto. Esse texto termina.

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